Evolução tecnológica
Ao longo dos anos, os avanços tecnológicos permitiram que exames laboratoriais fossem realizados com maior exatidão (isto é, o resultado mais próximo do valor correto) e precisão (reprodutibilidade), aliando-se também a uma maior rapidez na entrega dos resultados.
Isso também é verdade quando nos referimos aos exames imunológicos que são utilizados para diagnosticar diversas infecções.
Especificidade
Mesmo com os avanços tecnológicos, ao longo dos anos, os resultados de exames laboratoriais imunológicos não são 100% específicos. Isso significa que mesmo utilizando as melhores marcas de equipamentos disponíveis mundialmente no mercado, podem haver reações falso-positivas (reação cruzada).
Por exemplo, se um exame que pesquisa antígenos e anticorpos para o vírus do HIV possui uma especificidade de 99,5%, quer dizer que existe a possibilidade de 0,5% de que ocorra uma reação com alguma partícula que não esteja diretamente correlacionada com o objetivo do exame (neste exemplo, a pesquisa de antígeno/anticorpo do HIV).
Como interpretar
Verificar intensidade da reação
Um ponto muito importante que deve ser observado no resultado de um exame Reagente é a intensidade da reação. Isso pode ser visto através do valor da concentração ou do cutoff (S/CO) do analito que estamos pesquisando.
Neste sentido, os exames imunológicos apresentam resultado Não reagente quando apresentam valores de intensidade de reação até um determinado valor. E apresentará resultado Reagente quando a intensidade da reação ultrapassar este valor. Como exemplo, temo os seguintes valores de referência para o exame laboratorial sorológico para HIV:
-
- Não reagente: < 1,00 S/CO
- Reagente: ≥ 1,00 S/CO
No cotidiano clínico-laboratorial, resultados Reagentes com valores de reação muito próximos do cutoff (S/CO), geralmente, podem ter duas interpretações:
- Início do processo infeccioso, onde os analítos pesquisados ainda estão em baixas concentrações;
- Reação falso-positiva.
Uso de fluxogramas para o diagnóstico
Devido a essa possiblidade de falso-positividade, para concluir o diagnóstico clínico-laboratorial, na maioria das vezes, se faz necessária a utilização de um fluxograma que utilize metodologias/técnicas distintas para que o “alvo” seja detectado por mais de um exame, concluindo que realmente o agente infeccioso ou os anticorpos contra ele foi/foram encontrados.
Causas de falso-positividade
Já é bem descrito na literatura especializada que várias situações podem interferir nos resultados dos exames imunológicos. São elas:
- Infecções virais (HBV,HSV, CMV, Rubéola, HAV, HCV, EBV, HTLV-I, HTLV-II), fúngicas, bacterianas e por protozoários;
- Doenças autoimunes;
- Todos os trimestres gestacionai;
- Mulheres multíparas;
- Pacientes com IgG e IgM elevadas;
- Pessoas que receberam vacinas;
- Pacientes em hemodiálise;
- Pacientes hemofílicos;
- Pessoas que receberam transfusões múltiplas.
Exemplos no cotidiano laboratorial
Diante do exposto, vamos ver dois casos como exemplo:
Paciente gestante apresentando resultado Reagente para Hepatite B
Paciente gestante fez exame de pré-natal e apresentou resultado Reagente para o Anti-HBs, isto é a paciente apresenta anticorpos (imunidade) contra o vírus da hepatite B. No entanto, nesta mesma avaliação, a paciente apresentou resultado Reagente para o antígeno HBsAg, com valor de 2,95 S/CO, isto é, muito próximo do cutoff (Reagente ≥ 1,00). Nossa experiência laboratorial mostra que pacientes com Hepatite B apresentam resultados elevadíssimos do cutoff do HBsAg em torno de 1.000, 2.000 e até acima de 4.000 S/CO.
Portanto, esse resultado muito baixo poderia ser ou início de uma infecção por um subtipo diferente do vírus da Hepatite B (uma vez que a paciente já era imunizada) ou falso-positividade (reação cruzada) com a própria gestação.
Para concluir o diagnóstico, foi solicitada a carga viral para o vírus da Hepatite B, dando resultado Não detectado. Desta forma, concluiu-se que a paciente não apresentava infecção, e sim reação cruzada. E, ainda, após o nascimento do bebê, o resultado do HBsAg tornou-se Não reagente.
Paciente gestante apresentando resultado Reagente para HIV
Paciente em sua segunda gestação realiza exame para HIV no pré-natal. O resultado foi Reagente, apresentando valor de cutoff (S/CO) de 1,95. Quando procuramos por resultados anteriores da paciente, observamos que havia resultado de mesma intensidade no período da primeira gestação. O que corroborava com a hipótese de reação cruzada. No entanto, seguindo o fluxograma de diagnóstico, foi realizado o exame de carga viral do vírus do HIV. Neste, obteve o resultado não detectado, levando à conclusão de que o resultado Reagente de baixa intensidade era um falso-positivo e que isso se devia à própria gestação que a paciente desenvolvia.
Conclusão
Portanto, nem todo exame imunológico com resultado Reagente é conclusivo para afirmar que o paciente possui a infecção. Devem ser avaliados outros exames, podendo concluir que há uma reação cruzada.
4 respostas
Excelente explicação, muito obrigada Dr João Pita!
Eu que agradeço seu FeedBack Dra. Neuza!
Excelente material para instrução e tirada de dúvidas. Parabéns 👏👏👏 professor Pita. És o melhor que há dentro das análises clínicas
Obrigado pelas palavras Ilton!